Apesar do 'boom' turístico em Portugal, o efeito junto dos pequenos agricultores das aldeias “ainda é nulo”, constata José Borralho, presidente da Associação Portuguesa de Turismo de Culinária e Economia (APTECE) - defendendo que é preciso em Portugal “ligar o turismo ao sector agro-alimentar, integrar o produto com o território, e lançar um grande projeto nacional associado à gastronomia numa estratégia de longo prazo”.
A gastronomia portuguesa já é no geral conhecida e apreciada pelos turistas, mas “falta um projeto nacional envolvendo toda a fileira, desde operadores turísticos, hotéis, restaurantes, chefes de cozinha, escolas de turismo, ou autarquias que querem valorizar o seu território”, sustenta José Borralho, frisando que num país como Portugal também é preciso mobilizar aqui em força “os pequenos produtores agrícolas, criando uma série de experiências que permitam aos turistas uma vivência autêntica e no local dos nossos produtos endógenos”.
“Hoje há quem pague para apanhar uvas, é um produto de experiência gastronómica já relativamente bem trabalhado no sector do vinho”, nota o presidente da APTECE. Mas há uma larga margem no país, sobretudo nas aldeias do interior, para as experiências turísticas associadas à gastronomia se poderem multiplicar.
“A começar por ordenhar uma ovelha para fazer um queijo”, exemplifica. “As pessoas em todo o mundo têm cada vez mais interesse nisto, a maioria da população concentra-se em grandes cidades e o que procura é descobrir a cultura e os locais”.
“Temos muitas coisas interessantíssimas para o turismo, que podem envolver visitas aos pequenos produtores, desde logo uma grande diversidade de pão, além de queijos ou enchidos”, sublinha. “Ainda hoje os estrangeiros surpreendem-se com a nossa gastronomia, Portugal continua a ser visto como um diamante em bruto”.
A gastronomia portuguesa já é valorizada, mas os turistas querem conhecê-la melhor na origem e com “experiências locais”, defende a APTECE
“Há países que já estão a mexer-se muito bem no turismo gastronómico, e isto só vai lá com vontade política”, enfatiza. “Vemos uma série de destinos a diferenciarem-se pelas experiências que oferecem com os pequenos produtores locais, hoje a Toscânia vive disso”.
José Borralho lembra que “muitos hotéis de Lisboa e Porto usam queijo de barra ao pequeno-almoço, quando de viam ter produtos locais”. E também que “o turista hoje sente-se motivado a ajudar a economia local, é preciso criar condições para poderem visitar os produtores e vender essa experiência”.
Fazer 'cross selling' entre regiões turísticas
“Mais de 50% dos turistas que nos visitam vão para Lisboa e o Algarve e temos rapidamente de avançar para 'cross selling' entre as regiões”, salienta José Borralho. “O turista que vem a Lisboa pode, dois dias a seguir, e apenas a uma hora de caminho, ter experiências na origem associadas à gastronomia. É preciso criar pacotes específicos com este tipo de experiências e as próprias regiões têm de o começar a fazer”.
Segundo o presidente da associação de turismo de culinária, “todas as regiões têm um produto-chave de gastronomia, têm é que o mostrar com outro tipo de oferta associada”. Dá o exemplo do Alentejo, “uma região que já trabalha muito bem e começa a ser referencial em termos gastronómicos, 100% dos restaurantes da região usam produtos locais”.
E outras regiões portuguesas tenderão a ter uma notoriedade crescente com a sua gastronomia. “O Centro vai ser uma agradável surpresa no futuro, tem muito boa oferta de culinária que ainda é desconhecida”, avança o presidente da APTECE.
Em Lisboa, as filas de turistas junto aos pastéis de Belém já são um sinal claro do poder da gastronomia. “Mas ao andar na Baixa já vemos pastel de bacalhau com queijo da Serra, pizzas com batatas fritas e outras coisas muito más”, faz notar José Borralho, defendendo que “as cidades e as autarquias têm de intervir na proteção do nosso património gastronómico, pois não pode haver 'atentados' como temos ali”.
Turistas gastam mais 30% com experiências gastronómicas
“Com o consumo de atividades e experiências ligadas à gastronomia, está provado que os turistas gastam mais 30% no destino, entre €900 a €1200 segundo dados mundiais”, frisa ainda o presidente da APTECE. O consumo deste tipo de experiências envolve um leque alargado de atividades, “desde ir a um festival de gastronomia, ações de 'show cooking' ou apanhar uvas para fazer vinho”, exemplifica.
Lembrando que segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), 88,2% dos destinos internacionais consideram que a gastronomia é um elemento-chave para definir a sua identidade e lhe dar valor enquanto marca, José Borralho adverte que Portugal precisa aqui de se diferenciar com uma estratégia forte e diferenciadora, capaz de trazer benefício aos pequenos produtores locais.
“Hoje temos um turista que descobre o destino através dos cinco sentidos”, sublinha José Borralho. “E a gastronomia já é uma moeda social, as pessoas fotografam o que comem e põem nas redes sociais”.
FONTE : http://expresso.sapo.pt/
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